Parece que a onda oitentista ainda não passou. E a tal década perdida é pano de fundo (de novo...) para a mais recente produção nacional da Netflix: Samantha! Comédia rasgada dirigida por Luis Pinheiro e Julia Jordão, ambos com experiência na tv fechada e com o mercado publicitário. Alice Braga, estrelada em produções brasileiras (Cidade de Deus) e no exterior (Ensaio Sobre a Cegueira, A Cabana, entre outros), encabeça a produção.
Emmanuelle Araújo é Samantha! (com ‘!’). Uma atriz que faz de tudo para resgatar fama dos tempos de estrela infantil quando era o rostinho principal da Turma do Balão Mág....ops... da Turminha Plimplom. A série apresenta sem filtro sua trajetória: da criança psicopata no auge da carreira à sua maturidade como celebridade esquecida com dois filhos pra criar.
Emmauelle está ótima, engraçada e super à vontade neste terreno já desbravado com sua Gretchen lá em Bingo: O Rei das Manhãs (2017, Daniel Resende). Samantha tem camadas inescrupulosas quando corre atrás de seus objetivos, como também mostra afeto no seu núcleo familiar. Aliás, elenco todo é uma excelente surpresa e entregam personagem hilários, absurdos e por vezes tocantes. Daniel Furlan (Marcinho), como o empresário fuçador de oportunidades; Douglas Silva (Dodói), o par amoroso em busca do seu lugar no mundo como pai e ex-celebridade do futebol, e as crianças Sandra Nonata e Cauã Gonçalves, como os irmãos Cindy e Brandon, que são a cara da Geração Z. Destaque de luxo para Ary França como Zé Cigarrinho, cuja estória pessoal conduz os destinos dos personagens até o final da temporada.
Destila-se toda nossa perspectiva debochada dos anos 80: O merchan politicamente incorreto, a sensualidade peculiar da época e as deliciosas lendas urbanas: facas escondidas em brinquedos, obscuras mensagens subliminares e uma tal perna mecânica que ninguém viu, mas todo mundo já ouviu falar. Partindo dos ’80, a série é contemporânea e tem um repertório de piadas que estão aí neste mundo-líquido-de-meu-deus: os realities como depositório de ex-celebridades, o falso engajamento ideológico dos youtubers famintos por likes, easter-eggs aos montes (tem um político muito bom na cena do banheiro da boate) e uma inteligente sacada entre a cegueira dos fãs analógicos e digitais.
Apesar de algumas derrapadas pontuais nos diálogos, o ritmo de sitcom e a edição assertiva faz com que não você largue destes doidos varridos até o último capítulo. É verdade. Vi numa só tacada. Morri de rir. Ainda que com humor ácido é uma série quentinha para nossas férias de inverno. É humor brazuca para os brazucas. Minha filha de 15 anos soltou o seguinte petardo ao final da maratona: “É uma série hilária que te abraça”. Então, tá! Ponto para Netflix!
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