segunda-feira, 31 de outubro de 2011

República Separatista (ou Bandeira Negra)


Por vezes as hemoglobinas piscam
e esvanecem em micro-vênetos
e iniciativas basco-separatistas
Osséticas e checheno-frêmitos

Os suspiros são retro-físicos
e estrangeiros em suas mortes
Olham a esquina com medos tísicos
Exprimem glândulas sudoríparas fortes

Bandeiras ventam passados únicos
Reconhecem-se na retina da terra
Salivam lendas e folclores telúricos
Ficam armas, arames inguchétas

O que dizer do amanhã
Se estes tais salivam incertezas?
Somos águas profundas e anãs
Cercadas de ilhas de estranha beleza

Cheirem do sulco de nossos montes!
Comam do poro de nossos queijos!
Banhem-se em nossas fontes!
Assim entenderão - de vez -
/ as vísceras dos nossos desejos

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

FRIÚMIDO E SECÚMIDO (Ou diminuindo o sentido do escrito)

Friúmido no orvalho dos tempos
Na lógica pródiga das águas
Gotas insólitas e oceânicas
Gotas místicas e amazônicas
Gotas únicas e escorridas

Secúmidos campos arenosos
Gotas profundas e elísias
Gotas grâmicas e íntimas
Gotas tântricas e asfálticas
Gotas em torneiras írritas

Gotas friúmidas
Gotas secúmidas

Gotas serênicas
Gotas melancúmidas
Gotas tésticas
Gotas glândicas
Gotas vúlvalas

Gotas enigmatêmicas:
De onde vem o conflito?
Água, leite ou azeite;
Vida, corpo ou espírito?

sábado, 8 de outubro de 2011

AGIOTA IDIOTA

Sou agiota de mim mesmo
Sou idiota assim mesmo
E cobro caro, altos juros!
Navalhando-me em urros!

E isso: olha o problema!
dilema: pode-me não levar
Pasmem! a lugar nenhum

Vou a escritórios duvidosos
Na Avenida Ventriculosa
Talões de cheques grossos.
Cauções endo-ardilosas

E vai virando bola de neve
Envelheço - fico devendo...
devendo...

Que merda isto, hein!?

Café



Acabei de cometer suicídio
e quando arrependi
estava tomando café

Clarice, poema?

"qual uma faca íntima/ ou faca de uso interno, /habitando num corpo /como o próprio esqueleto"
(João Cabral de Melo Neto)

Tremi, e desta vez foi de propósito
Não fingi que era flâmula
nem que era anemômetro
não fingi que teço trama
não fingi que era fenômeno

Foi real, tremi, me espantei
Vi um gozo que não era meu
Ouvi um sotaque que não era meu
Senti-me mal, engoli, arrotei

Denso como pecado de treva
Falível como recado que herda
Furtos tórridos de péssimas lembranças

Desta vez, senti frio na espinha
Pesou o olho turvou-me a língua
Escorreu até sangue...
Como um piercing mal aplicado
Como indelicado e invasivo cateter

Era éter, é chumbo, será mercúrio
Não fingi - senhores - apenas lembrei
só lembrei, de Clarice Linspector

A MAÇÃ


Crítica sobre o filme "A Maçã" de Samira Makhmalbaf

"Talvez a melhor manobra estética de Makhmalbaf seja demonstrar como nos atrai a idéia angelical do ser humano puro, imaculado, desprovido das maldades mundanas, repleto de ternura (onde o ato mais bestial é roubar picolés de um moleque ambulante) na clausura da ignorância."

Ler no link ao lado "Ensaios e Críticas de Cinema"