quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

SOU HOMEM


Eu sou apenas um homem
Um homem.
Tenho guardado os sonhos
Como brinquedos
Tenho filtrado aflições
Como folguedos
Tenho guardado segredos
Por que sou homem.

Sou limitado e enquadrado
Tenho violência e sexo
Tenho a doçura tensa
Imensa e paternal
De um homem

Sou o primeiro a apagar o incêndio
E último a irritar-te com meu silêncio
Ao teu grito silencio-me
Por que sou homem.

Tenho pêlo no corpo como um homem peludo
Alguns indepiláveis em lugares escuros
Outros culturalmente pêlos esdrúxulos

Tenho chorado no adeus
Tenho um copo de coisa pra me consolar
Tenho os pés descalços na sala de estar
Por que sou homem

Tenho acreditado em Deus
E sou um sacerdote em meu lar
Deus é sangue bom é parceiro e fecha comigo
Meu fiel meu amigo
No para-brisa adesivo: ele Mesmo
e meus outros amigos

Tenho amigos como irmãos
Mesmo aqueles que não são sãos
Tenho um animal de estimação
Tenho minha toalha jogada no chão
Um par de chuteiras que não penduro não
E um desvelhecer que perdura então
Por que sou homem.

Deixa meu orgulho falar
Deixa meu dedo em riste apontar
Deixa eu escrever a civilização
Deixa eu lavar a roupa suja
Com discrição
Por que sou homem

Da seita hermética e explícita dos homens.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

MANADA DO ANAGRAMA

Tudo que eu queria na vida
era escrever uma letra só
uma nota só, um samba só
um botão que não se sentisse só

Era poder dar um laço
sem querer deixar espaço
pra fazer a mágica do nó

É lembrar obtuso                                                              (de ser o Homem-de-Aço)
do seu verso confuso
do tom grave em seus olhos

Engolir seco o ocaso
Sem lembrar dos pedaços
Salgados negros do alho

É ter a rima perdida
lá na última esquina
onde um homem está de pé

E dizer que te amo
E de longe acompanho
ondas tristes em Jaconé

Talvez de Botafogo
Talvez ser tijucana
única gentílica se quiser

tem os olhinhos puxados
a covinha engraçada
a garotinha virou mulher

Eu esbarro na letra
Eu desfaço o nó
a juventude em sândalo

O anagrama secreto
a missiva eu acerto
para não ter escândalo

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

DEDICATÓRIA TELESINÁPTICA (daquelas que jamais são entregues em mãos)

Te vi iluminada entre livros/
o entardecer me deu esta imagem de presente/
o que mais da cidade agora é suficiente?/
do que este entardecer que se obscura/
nos teus olhos delicados, entre a fria arquitetura