Eu estava sob clara incontinência de quem bebe vinho
A certeza da razão demolida, a perda das amídalas
De tanto gritar em janelas desconhecidas e sozinho
Sozinho, ausente de paredes sólidas e bengalas amigas
Tudo naturalmente planejado para dar errado
A vida profunda na cidade atormentada de respostas
A violência, a concorrência, o trânsito parado
Aquela desvontade medonha de para tudo das às costas
Mas se desistir de amar - não sou eu, serei o vizinho
Mas se desistir de lutar - não sou eu, serei o outro
Apesar de no outro me reconhecer mais que comigo
Comigo me encontro mesmo com algum esforço
É por isso que pago minhas contas e bebo Cabernet
Me dou ao direito de pagar ainda mais pra ver
Por que sei que sou explorado mais do que devia
Mesmo que não valha mais a mais valia
Mesmo que de tantos direitos escritos me respaldem
Me multam e querem cheirar meu hálito
Me impostam os impostos - a bunda me apalpem
Me taxam até os ossos e ainda deixo barato?
A janela é minha - gritei de madrugada
Ninguém escutou - não houveram comentários
Não pixei a Igreja, nem o Governo, nem a politicada
Apenas um grito - uma escarrada - de alma e bile incendiários