sexta-feira, 29 de julho de 2011

CARTÃO DE CRÉDITO




Proprietário de um Honda Civic preto, placa KLT 5685, favor comparecer ao estacionamento!

– Pai, pai!
– Quié, Paloma...
– Não é o seu carro, não...?
– Não é meu carro o quê, Paloma?...Peraí...que eu ‘tô lembrando da senha...
– ‘Tão anunciando lá fora...
– Olha, não é possível... Só um instante que eu tenho que lembrar a senha do cartão...Já digitei duas vezes...
– Usa um outro cartão pai....
– Já usei um no mercado... Olha filha, se preocupa em tirar esse arame do nariz e me deixa. Fica quietinha...
– É piercing, pai.
– Que seja... Fica fria aí, minha filha...

Proprietário de um Honda Civic preto, placa KLT 5685, favor comparecer ao estacionamento!
   Proprietário de um Honda Civic preto, placa KLT 5685, favor comparecer ao estacionamento!

– Pai, pai...
Olha Paloma... Caso eu erre esta senha vou perder o cartão. Fica quietinha, minha filha!
– ‘Tão anunciando...lá fora...
– Já chega a confusão no mercado...Olha, hoje não é meu dia...Quatro, Cinco, Oito
– Pai não fala a senha, não...
– Peraí que eu estou lembrando... Vou lembrar! Quatro...

[Senha Incorreta. Excedido número de tentativas.]

– Senhor, deu senha incorreta...
– Puta que...Olha desculpe...Estou nervoso....
– Tudo bem. Isso acontece. O Senhor tem cheque?
– Não trabalho com cheque. ‘Peraí que eu tenho outro cartão de chip...

Proprietário de um Honda Civic preto, placa KLT 5685, favor comparecer ao estacionamento!

– Pai...Pai...Acho que é o nosso carro....
– É o nosso carro o quê Paloma! Já perdi um cartão...Fica quietinha aí, pelo-amor-de-deus!
– Pai...
– Porra! Paloma! Olha desculpe...(olha para caixa, sem jeito)
– É assim mesmo, senhor. Tudo bem...
– Olha desculpe...Já me aborreci no mercado hoje e estou meio nervoso. Olha... Espera aí, vou usar este vermelhinho aqui. Com certeza tenho a senha... (aponta o indicador para a têmpora esquerda).


Minutos antes no supermercado do shopping.

– Com licença, a senhora passou duas vezes o código do guardanapo.
– Não senhor...
– Olha passou sim. Veja ali na tela...
– Deixa eu ver...Não senhor. É outro produtinho...
– Que produto, minha querida? Só comprei uma garrafa de vinho, um refrigerante, duas lasanhas de microondas, um pacote de guardanapos e se Oxalá me permitir ainda vou comprar um par de sapatos...
– O senhor ainda vai pegar os sapatos?...
­– Não, não é aqui, não! É na loja de...Olha, presta a atenção no serviço. Vê aí na tela... O guardanapo.
– Deixa eu ver...há sim...Desculpe...Deixa eu chamar a fiscal de caixa..

            Acende uma luzinha acima do caixa. Uma tela de LCD anuncia as promoções do dia.

– Olha minha filha vai demorar muito? Tem um aniversário, onde só tem a aniversariante por enquanto. Se for rapidinho trago até um pedaço de bolo pra senhora...
– O senhor só está levando lasanha...
– O quê? Como assim...Não se mete...Foi um comentário retórico...
– Reto...O quê?
– Olha, deixa pra lá. Vai demorar muito, ainda?
– Já vem jazinho...

            Aparece uma menina de embalada a vácuo numa lycra bicolor, com um crachá pendendo no pescoço, evoluindo em cima de um par de patins.

– Oi, Gina. Que houve?
– Cancela este guardanapo...
– Filha, pode ser rápido isso?...
– O senhor vai pagar com Cartão JetMarket, senhor....
– Não. De crédito...
– Com ou sem chip, senhor?
– Sem chip.
– Identidade.
– Toma.
– Um momentinho. Um momentinho...
– Que houve...
– Não está passando senhor...Só um instantinho...
– Pai...usa o outro cartão.
– Tem que se este mesmo...Este mesmo!Vai botando as compras na sacola, Paloma.

            A caixa embrulha o cartão em um saco do mercado e passa no leitor.

– E aí...Deu certo o macete....
– Só um instantinho, senhor...Deixe eu passar mais uma vezinha...
– Vai, minha santinha... (Ironiza).
– Senhor o cartão não está passando...
– Tenta mais uma vez.
– Senhor vai ter que passar no SAC. Ali à direita no cantinho...
– Tenta aí que vai passar...Com fé! Afina mais o saquinho assim ó...
– Olha...passou!
– Estes cartões gastam a paciência da gente...
– Tá na cara, tá bem gasta mesmo.
– O que você disse!?
– A tarja senhor. A tarjinha do cartão. (Com riso curto, roça o dedo na tarja preta do cartão).
– Sei..sei...Paloma, vai deixar estas compras no carro. Eu te encontro na loja de sapatos. Pode deixar as sacolas na frente mesmo por que é pouca coisa.

- PRÓXIMO!

            Instantes depois. Corredor central do shopping na loja de sapatos.

– Vou lembrar a senha, ‘peraí .
– Pai usa o outro cartão....
– Já falei. Usei no mercado e fiquei sem limite.
– Cuidado senão o senhor cancela este cartão também – diz a caixa.
– Eu vou lembrar....eu vou lembrar...
– O senhor tem o cartão da loja?
– Eu? Eu não. Tenho não. A minha esposa é que tem. Ela sempre compra aqui. Esteve aqui ontem mesmo comigo. Mas inventei uma estória para ela não comprar nada... Uma loura, lembra não?
– Não senhor. São muitos clientes... Se o senhor quiser, nós podemos fazer um cartão agora. Vamos tentar liberar o crédito na hora.
– Não precisa...Vou lembrar! Quatro, oito, zero...Ih! Merda! Desculpe! Merda! Desculpe...

[Senha Incorreta. Excedido número de tentativas].

– Olha vamos fazer o seguinte: Se o senhor tiver o cartão da sua esposa a gente libera a venda.
– Não. Não. Só me faltava esta. A patroa pagar pelo próprio presente. O que precisa pra fazer o cartão e liberar o crédito?
– Identidade, CPF e um comprovante de residência.
– Paloma! Dá um pulinho lá no carro e pega uma conta de telefone que está no porta-luvas.
– É melhor a gente ir logo pai. Chega aqui na porta da loja.
– Ai meu Pai Eterno...O que que é, Paloma? Larga meu braço! Vai sozinha. Eu espero aqui.
– Escuta só...

Proprietário de um Honda Civic preto, placa KLT 5685, favor comparecer ao estacionamento!
Putz! Paloma! (Juntou documentos, cartões e arrumou sem jeito no bolso da frente da calça jeans. Correu desengonçado para não quebrar nenhum cartão). – Por que você não me avisou Paloma? Cacete!

            Esbaforido, chegou à vaga onde havia um vigilante falando no rádio. A filha ainda vinha driblando retrovisores mascando um chiclete com cara de “eu avisei”.

O senhor é o proprietário?
Sou eu, sim.
– Estamos chamando no alto-falante há tempos. A porta do carona estava aberta. Não há nem sinal de arrombamento.

   Dá um tiro com o olhar em direção à filha e franze os lábios. A filha finge que não vê.

– Cacete! Levaram o rádio. Meu rádio novinho! Levaram o GPS! Levaram as compras...o vinho...o refri...a LASANHA...
– Calma, pai...deixaram o saquinho de guardanapo...

   Agora foi um fuzilamento com o olhar. A filha finge que não vê.  

– Meus DVDs...O Zeca, o Exalta..., o Martinho da Vila... Fizeram o cata...
– Olha ali pai...
– Porra, Paloma! Desculpa, filha...– Esfregando nervosamente as unhas no alto da cabeça – Levaram até a figa, cacete. Por que um ladrão ia querer figa dos outros...Deve ter saído da validade mesmo.
– Olha ali, pai.
– O QUE É PALOMA?
– Debaixo do banco...Sapataria Sra.Elegantt. É o cartão da mamãe...Ela deve ter daixado cair...Vamos voltar lá...pra comprar...
– Desculpe, filha. Desculpe, seu vigilante. (Joga os braços pra baixo).
– Desculpe o que papai? (Na mesma hora olha o vigilante).
– CARTÃO É O CARALHO! CARTÃO É O CARALHO, PALOMA! PUTA QUE PARIU!

quinta-feira, 21 de julho de 2011

ÔNIBUS AMARELO

http://classic-carsfortaleza.blogspot.com/2010/12/propagandas_23.html


– Oi, com licença...
– Sim?
– Quando vir o 974 o senhor faz sinal pra mim...
– Claro...
– É que mudaram as cores dos ônibus. Dá pra confundir
   com o 975... É um amarelinho agora, viu?!
– Sim.
– Rapaz, ô rapaz. Vai cair...
– Hã?
– O dinheiro do seu bolso...Sem querer esbarrei com a mão...
– Obrigado...Senhora
– Nada meu, filho...
– Tá cheiroso...arrumado...vai encontrar com a namorada, né?
– O quê...?
– Você tá muito jeitoso, viu?
– Obrigado... Olha vem seu ônibus. Tá longe ainda
   mas eu faço sinal pra senhora.
– Ah...obrigado...mas não é ele não.
– Ih...é mesmo...
– As freadas... O meu não freia assim não...
– Então tá!
– Dia bonito né...sol...tempo maluco...
   Nasceram umas florezinhas ali no asfalto, ó.
   Bonitinhas, né?
– É...
– São onze horas...
– Não, já devem ser quinze pro meio dia...
– Não, as florezinhas...Onze Horas...perfuminho bom...
   Braquinhas...lindas de ser ver. Tinha numa casa ondei morei. 
   Ficou bonito, né? Alguém deve ter plantado...
– É...
– O médico falou pra eu tomar sol todo dia...
   Bom pros ossos. Mas eu gosto mesmo é
   da beleza do dia...as pessoas na rua...o cheiro
   do dia...
– Ah...é...
*
*
– Xiii vai cair...
– O quê?

FILHO DA PUT....!!!
*

– Tropeçou feio, este moço. Escutei ele correndo...Tem um buraco alí na
   calçada. Já tropecei alí. Alí é batata!
   Não adianta que este ônibus não para aqui nem por um decreto.
   Só ali adiante... Ou se o sinal fechar...o sinal tava verde.
– Pois é... É mesmo!
– Sabia que eu tinha um filho da sua idade?
– Não...
– É claro...como é que você ia saber né?...Mania de velho...
   De puxar assunto, né, meu filho? Ele morreu...acidente
   de moto. Não se preocupe que não sou destas velhas que
   ficam puxando assunto no ponto de ônibus, viu?! (riu)
– Se incomode, não. (respondeu com sorriso)
– Ele gostava muito de saladinha...salada...
– É?
– Por falar nisso, as verduras alí tão bonitas não é?
– Onde?
– Na barraquinha...aqui do lado...eu também não tinha reparado, não. 
   Deve ser novo aqui no ponto.
– Nem eu tinha visto...
– Você é novinho...Só olha o que está na frente dos olhos...
   Olha só: chicória, bertalha, coentro, cheiro-verde, cebolinha,
   alface crespa...tá bem sortida. Tá um verde de ofuscar
   os olhos...ele acabou de borrifar nas verduras...Respingou
   aqui no meu braço. (sorriu)

– É mesmo...
– Fez um barulhinho irritante, né?  (imita um gatilho com o dedo)
*
*
*
*
– Ah! Olha lá! Meu ônibus...faz sinal, faz favor?
– Onde?
– Assim que abrir o sinal alí da esquina você vai ver.
   Tá meio escondido... atrás do 428.
– Não vi ainda...
– Já, já aparece. Chega tudo junto...o sino da igreja bateu faz
   uns cinco minutinhos. 
– Eu nem tinha escutado sino...
– Ninguém mais escuta barulho de sino, né?....
   Hoje o ônibus atrasou...tô com pressa.
   Vou visitar meu filho...
– (Deve ser um outro) – o rapaz pensou.
– Me deixa pegar a bengala aqui na bolsa...
– ?  (Foi espiar inclinando a cabeça)

A senhora pegou uma vareta que se esticou em forma de bengala.

– Todo dia 18 eu vou visitar meu filho...
– Ué? A senhora é ceg....!!!!!
– Meu filho tá esperando...onde ele mora é um lugar ruim de se ver.
– Ele mora longe?
– Faz favor...me ajuda a levantar e faz sinal pra mim...Ninguém
   respeita velho hoje em dia.
– Qual a rua que a senhora vai? Sabe soltar direitinho?
– Sei ...põe minha mão na barra da porta, faz favor...eles mudaram
   o modelo do ônibus...olha é esse amarelinho aí...ó!
– É ele mesmo! Olha fiz sinal e ele está parando pra senhora.
– Você tem os olhos do meu filho...
– O outro...
– Não...Era filho único....O que morreu...faz 15 anos...estou indo ao cemitério agora.
– Põe a mão aqui na barra da porta. Nossa! A senhora vê tudo, hein?
– Menos lá onde está meu filho. Lá eu não consigo ver nada; só escuridão.
   Só escuridão...A saudade é preta sabe? Tem cor de nada...
   Cor de nada. Mas obrigado. Muito obrigado, meu filho.
   Deus que te abençoe e te dê luz!


quarta-feira, 20 de julho de 2011

Põe uma preta aí!

créditos:http://www.amenidadesdodesign.com.br/2010/05/posters-antigos-de-cerveja.html



– Põe uma preta aí... Seu Ramiro!
– Peraí...deixa eu ver este troco aqui...
–  Me vê também um amendoim do saco verde, faz favor.
– Toma aí...
*
­– Fala aí Motilho...
– Fala...aê...Geraldo! Seu Ramiro...ô Seu Ramiro...
   põe uma branca aí pra mim.
– Peraí...Ô Neide...Ôoo Neide...Serve aqui no balcão pra mim,
   minha filha!
– Ihhh! Tá enrolado (risos)
– Deixa eu ajeitar esta antena aqui....Ô Neide tem copo pra
   cacete aqui no balcão...Neide!!!

Tshshsh! Tshhhh! Ouvimos Bee Gees com Stay...tshhhtshss

­– ...Booora Seu Ramiro que tô com a garganta seca....
      Grande Geraldão! Só na pretinha...
– É rapaz. A preta não me larga e eu não largo a preta.(risos)
– Aquele alí...(aponta com o copo na mão)....não larga a loura...
– Este entende de loura, Geraldo! E pelo jeito tá “pegando”
   ela desde cedo.
­– Ô Waldemiro! Para de olhar pro tempo rapaz!

(Waldemiro acena curto com a mão.)

– Waldemiro! Não encosta assim com esta cadeira de plástico...
    Tu vai cair daí...rapá!
– É mania dele Geraldo.
– Rapaz...não tem ninguém jogando sinuca hoje...
   Que milagre!
– Seu Ramiro, não vendeu ficha hoje...
– Ué!? Que “c’ouve”? Tá rico...
– Se encheu da branca ontem...
– Seu Ramiro bebendo cachaça?
– Não rapaz...a Branca...Sabe aquela branquela que vem aqui!
– Ah, a manicure!
– Esta mesmo! Ontem depois que fecharam as portas...foi
   palavrão pra tudo quanto foi lado...
– É mesmo rapaz...
– Tu sabe que ele se amarra numa preta...
­– Ih! Rapaz...Ela pegou seu Ramiro com a boca na butija!!
– Não...não! Depois que baixa as portas ele bebe uma cervejinha
   preta com ela às quartas.Como tu bebe aí....
– Ah! Entendi...mas o que tem a preta com isso?
– Ele descobriu que a manicure sai com o cara do caminhão
   que traz a preta! Foi desgosto só! Falou comigo mais cedo
   que não quer confusão no bar hoje não! Tá numa dor de
   cotovelo que só vendo...
– É tô vendo...Tá todo enrolado hoje...Coitada da Neide!


– Motilho, toma aí a garrafa e se serve...

Thsss Só vou te contar porque você já é de casa...tshhtshh

– A loura tá um gelo hoje...
– Até que não tá não...ficam abrindo o freezer toda hora pô!
­– Não, Waldemiro...tô falando da Neide, lá da cozinha...
   Pra aturar o Ramiro...Oh..Fica quietinho na tua aí...Waldomiro!
­– Tem que ver o negão que tá comendo a manicure...
   Aí fica ruim pro Seu Ramiro!

– Ô NEIDE! DÁ UMA VARRIDA NO SALÃO, NEIDE!
   O CHÃO TÁ UM SEBO, NEIDE!Ai meu Ogum...
(faz com as mãos pro São Jorge acima das prateleiras)

Tshhh...Tudo me interessa, tudo tem mistério, sou devota...

– E o pior... Ô negão pega a loura também que não é fácil...
– Pô o negão tá comendo a Neide, também!!!!!
– Não, não...o negão é cliente da casa, rapaz. Bebe muito...
– Quer dizer que o Seu Ramiro se encheu de preta por causa
   Da branca que saiu com preto!
– E por isso esquenta a loura!   (risos)
– Que papo de botequim, hein! (risos)

– Ô NEIDE....TRAZ ESTA CAIXA DE CIGARRO AÍ
   EM CIMA DA MAQUININHA! VAMBORA NEIDE!

Tshhh. Esta foi Preta Gil com Estéreo...tshshshs

­– Ih! Olha a preta aí....(indicador em riste, próximo à orelha) (risos) 
­– Tá puto....Seu Ramiro....tá puto.(risos)

– BOOOOORA NEIDE!!!

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Quina Petróleo



- E aí Braga, quer que eu tire as costeletas?
- Pode tirar...Só chama atenção para a brancura das cãs.
  Pode tirar!
- Vou ali na pia limpar o pente da máquina. Só um instante...
- Fica à vontade, Seu Mateus
*
(Entra na minha casa, entra na minha vida)
*
- E da Dona Ruth, como está?
- Minha mãe tá ótima...Toca ainda que é uma maravilha.
- Você nunca levou jeito...
- Ah...nunca...Seu Mateus...Meu negócio é pandeiro, mesmo.
- E senhora sua esposa? Juliana...
- Não...Juliene....Ah....tudo bem. Todo mundo confunde mesmo...
  Tá bem...tá bem...Vai ver a mãe no nordeste este final de semana...
  Vai ficar dois dias. Mas pra mim...vai ser descanso (risos)
- (risos) Braga...Braga sossega o faixo....
- Você sabe que eu sou tranquilo...Só não me provoca...
- E a sinuquinha?
- Firme e forte! Taí um troço que eu não largo...
*
(...sara todas as feridas....me ensina a ter santidade....)
*
- Um homem se conhece pelos vícios....
- Não é vício...é hobby. Fica mais chique...hobby
- (risos) Quando eu era do mundo...Já joguei muito com este aí...
  (aponta com o queixo para o lado)
- Baiano? Baiano é pato...Seu Braga.
- Cuida do teu serviço...rapaz.(risos)
- Como o senhor aguenta trabalhar do lado do Baiano estes anos todos,
   Seu Mateus?
- Caridade...meu filho...(risos)
- Ô Baiano...pra te aturar só por caridade...Crioulo flamenguista do cacete...
- Deixa eu cuidar do meu freguês...Senhor vou passar o talco que terminou


(Por que o Senhor é o meu bem maior...Faz um milagre em mim...)


- Aqui é o único lugar que eu vejo lado a lado um macumbeiro flamenguista
  e um crente bacalhau!(risos)
- Quina Petróleo...
- Pode passar... seu Mateus


(Acabamos de escutar Regis Da...)


- Seu Mateus, o senhor usa Quina Petróleo há anos...alguém usa mais isso?
- Caprichos da profissão...
- Olha lá o Zé Trindade passando...envelheceu cedo...cedo
- São os vícios...
- Daqui o senhor vê a rua toda....
- Visão privilegia da vida dos outros (risos). Deixa eu pegar talco...


(Deus dá vitória, pra quem lutar com fervor...)


- Tá pronto!
- Seu Mateus...O senhor é um artesão do cabelo!
- Nada...Deixa eu tirar o pano...com calma pra não cair cabelo na calça....
- Toma! Fica com o troco. Vou andando que ainda tenho que pegar duas conduções...
- Ué, você não mora mais em Madureira, não?
- Não...tô morando no Encantado...
- Mas vem de tão longe.
- Pois é...são meus vícios seu Mateus. Aqui eu não corto o cabelo...
  Faço higiene mental...Fica com Deus, seu Mateus.
- Ele conosco. Até mês que vem...

quinta-feira, 14 de julho de 2011

BOM DIA, ALEGRIA!



 –  Agora vamos ligar para mais uma ouvinte.
     Não diga ‘alô’. Diga: Bom Dia, Alegria!
*
Tuuuu. Tuuuuuu. Tuuuuuuuu.
–  BOM DIA, ALEGRIA!
–  BOM DIA, MEU OUVINTE AMADO!
–  AHHHHH, AHHHHHH, AHHHHHH, MÃE! MÃE!
–  BOM DIA OUVINTE! Com quem eu falo? Com quem eu falo?
–   AHHHHHHH, AHHHHHHH!!!!
–   Mas calma! (risos) Mas calma! (risos) Com quem eu falo?
– AHHH! Desculpe....Fala com a Fátima!
–   E fala de onde Fátima?
–   AHHHH! Vaz Lobo!
–   Calma, (risos)  Fátima! FATIMA DE VAZ LOBO! BOM DIA, VAZ LOBO!
     Quem está aí com você Fátima?
–   Ahhh! Desculpe! Minha mãe e minha irmã!
–   E você Fátima, ouve a gente todos os dias?
–   Ouço, ouço sim!
–   E quanto anos você tem Fátima?
–   Dezenove!
–   Dezenove aninhos! Casada, solteira ou tico-tico no fubá, Fátima?
–   Tico-tico (risos)! BEIJO ARNALDOOOOO!
–   Arnaldo é o nome dele, Fátima. Bom dia, Arnaldo!
*
  (solta a vinheta: Tico-tico no Fubá.)
    Me diz, uma coisa Fátima...Você escuta a gente todos os dias?
–   Sim! EU TE AMO FERNÃO FERNANDES!!!!
–   Calma...Assim o Arnaldo vai ficar com ciúmes!
     Mas diz uma coisa, Fátima. Você escuta a gente todos os dias?
–  Escuto! (Eco na voz)
–   Faz uma gentileza, Fátima! Abaixa um pouquinho o volume do
     seu rádio e me escuta só pelo telefone, viu!?
–   EU TE AMO FERNÃO FERNANDES!
–   OBRIGADO, FÁTIMA! Vamos à pergunta da hora? Vamos?
 –  VAMOS!!!! MÃE!!! DINHA! DINHA! ME AJUDA!!!
–   Oi, FÁTIMA! Pode pedir ajuda, viu?!
    Posso perguntar? Posso perguntar?
–   PODE!
–   Atenção, hein, Fátima de Vaz Lobo!
     Você gosta do Fábio Junior?
 –  Acho, cafoninha, mas gosto!
–   Cê, acha o Fábio Junior cafona, mas gosta (risos)!
–   Gosto! É aquele do ‘Sábado’, né?
–   Não Fátima, esse é o José Augusto!
–   Aiiii, desculpa! Que mico!
–   Ai, ai, aiii. (risos) Fátima!
    Me diz uma coisa, vamos à pergunta da hora?
–   Vamos! Pode ser do MC Digão?
–   Não, Fátima! Aí fica muito fácil! Acabamos de tocar o MC Digão!
–   Tá bom, solta o cafoninha, mesmo!
–   Vamos lá...A música do José Augusto....
–   Ué? Não era o Fábio Júnior?
–   Nossa... desculpa, Fátima!...A música ‘Abre Coração’...
–   Ei, essa música eu sei. Essa eu sei! É do Marcelo!
–   Marcelo, que Marcelo, Fátima? (risos) Aí de Vaz Lobo?(risos)
–   Não Fernão. É do Marcelo mesmo!
–   Não Fátima. É da banda Cheiro de Amor!
–   Não, Fernão. É do Marcelo, mesmo!
     É essa pergunta? Essa é a pergunta? É pegadinha, né? Pegadinha...
–   (risos) Alô, Marcelo de Vaz Lobo! É colega da Fátima de Vaz Lobo (risos)!
–   Fernão! Cê não tá entendendo... É do Marcelo mesmo! Do Marcelo e do
    Jim Capaldi!
–   Ah! Sim...Agora vejam vocês...(tom mais baixo)
*
 (mudo)
–   Alô, Fernão, Fernão?? FERNÃO?
–   Oi Fátima...(risos) A produção me falou...
     Oi produção? Vamos à pergunta então....
–   Olha Fernão eu já acertei!  Abre Coração! Do Marcelo e do Jim Capaldi!
*
 (Microfone mudo. Estúdio)
 –   Produção do que é que esta criatura tá falando?...
  (Abre o microfone)
*
 – Vamos lá, Fátima de Vaz Lobo, pra ganhar a camisa e os convites...
–  E aí, acertei!? Mãaaaae, traz a capa do disco do Marcelo! É pegadinha, Mãe!...
*
(Produção em Off).
                                Fernão. A menina tá certa! A música “Abre Coração”
                                é do Marcelo e do Jim Capaldi. De oitenta e dois.
                               É do o Disco “Jogo de Espelhos”, a última música do lado B.
*
– Alô Fátima! FATIMA  DE VAZ LOBO?
– Oooiii! A música é do Mar....
  Tush! Tush! Tush!Tush!
 Ah! A ligação caiu! Que pena!!! Vamos pro outro ouvinte!
  Não diga “Alô”. Diga: BOM DIA ALEGRIA!

sexta-feira, 1 de julho de 2011

GATO NET E WI-FI

- E a parada tá de pé?
- Tá! Vamos fazê amanhã?
- Vamos! Ó a gente passa alí por traz, pelo basculante...fica na moral.
- Num vai dar merda não?
- Não, vai não...passa alí pelo basculante, fica um pedacinho de fio pra fora, só.
- Quinze, quinze, então!
- Quinze, quinze, fica bom pra tudo mundo.
- Tem os preguinhos aí...
- Tenho, sobrou de quando eu fiz aqui em casa.
- E os moleques tão bem?
- Tão bem, tão....O Gustavinho tá na escola. O Marquinho tá comendo com a mãe dele.
- Então tá bonito...
- Valeu. Ó, tu almoça aqui comigo amanhã...
- Não vai incomodar não...
- Nada, rapaz. Ó, as "ampolinhas" já estão no gelo. Não vou nem beber hoje pra te esperar.
- Ah Mané! Depois eu te dou a senha do Wi-Fi.
- Tem erro não...Amanhã tu me dá. A Roberta que tá enchendo saco. Ela ganhou negócio de...
  Como é mesmo....netbook. Ganhou lá no trabalho. Prêmio de vendas.
  Aí ela tá doida pra usar a internet. Discada é uma merda...e o outro não leva pra cozinha....
- É rapidinho ela vai gostar...pega o sinal aí com certeza. Pega no portão. Então paga aí, também.
- Mas valeu véio. Deixa eu ir lá que eu ainda vou pra "Big Fild" botar uma persiana pra minha irmã.
- Dez horas então...
- Tá bonito. Vai ficar legal. Ó a gente passa por alí por traz, no cantinho. Na encolha, fica na moral.
- Tá passando o Brasileiro.
- Tá...Tá. Ó mas cuidado que meia noite entra o canal de sacanagem, heim! Entra do nada.
- É tô sabendo...
- Mas valeu, amanhã a gente faz a parada e bebe uma geladinha.
- Valeu, valeu!
- Valeu, valeu!
*
*
*
*
- Roberta! Desliga a televisão da sala, pô! Tu "num" tá na sala. Tem sócio da "Light" aqui, Roberta!?
  Merda!


- Bzzz. A Polícia Federal estourou mais uma central clandestina de TV à cabo, em Ricardo, zona no norte do Rio. Segundo...
OFF.

TEREZINHA

- Terezinha, esta não presta. É vagabunda!
   Nunca prestou, minha filha
- É...
- Nunca serviu pra nada. Não sei como casou o Gilbertinho.
  Filho do seu Gilberto, o sapateiro.
- Mas parece...
- Parece nada...É verdade! Essa conheço de outros carnavais
- É mas a...
- Nem mais nem menos. Num presta mesmo. Sempre deu como xuxu na serra.
  Há o Gilbertinho... Mas gosta dela né? Fazê o que?
- É...
- Ai! Me machuquei de novo neste muro. Ô Galiano, GALIANO!
  QUANDO É QUE VOCÊ VAI VER ESTE MURO, GALIANO!?
- Seu Galiano tá bem?
- Tá bem! Só fica na garagem com aquele fusca! Deus que me livre!
  Mas Terezinha né? Se deu bem! Gilbertinho...Beleza de menino.
- É...
- Ô Roberta...Cê vai passar pelo campinho, minha filha?
  Proveita e chama o Luizinho pra tomar banho pra ir pra escola. Diz que eu tô chamando!
- Tchau, Dona Dinah.
- Vai com Deus, minha filha.
*
*
*
*
*
*
- LUIZINHO, Ô LUIZINHO!!!!
- QUIÉÉÉÉ!!!
- TUA MÃE TÁ TE CHAMANDO PRA TOMAR BANHO PRA IR PRA ESCOLA!!!!
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- Oi Dona Terezinha, bom dia...