quarta-feira, 17 de agosto de 2011

CONTO DAS BANDEIRINHAS

É tempo de manga
sapoti, araçá, romã
tempo de furtar quintais
tempo de espiar as ancas
das negras suspensas em varais
como fossem também
camisas, calças, ceroulas
suam no vento as tais crioulas

Corri de espingardas cegas
Roubei bandeirinhas às pressas
Só pra enfeitar minha janela
Só pra lembrar aos olhos dela
Que minha janela era a mais bonita

Enquanto girava sua saia de chita
Espiava de longe de curto horizonte
Os fogos chineses transluz como dia
Cintilavam estrelas na poeira do monte

Bateram palmas, fez-se o festeiro
Os tambores e os chocalhos
Fez a festa, riscou-se o terreiro
na dança com pés descalços

Ainda me lembro, ah! não me esqueço
Que roubei bandeirinhas finas
Pra por na janela como adereço
Vermelhas, verdes, amarelinhas

Você nunca foi a roça
Mas labutei desde pequeno
Quando em festa meu peito troça
Armadilhas no sereno

Valei-me os santos
Minha herança dos bantos
Minha esperança nos cantos
No verso da capoeira

É tempo de seca
A fogueira crepita
Olho esquerdo te espreita
O direito faz quizila

Só resta rasgar bandeira
Que minha janela enfeitou
Na memória impossível barreira
Teu rosto não esfacelou
E ainda esperança matreira
no meu peito menino ficou

Filha da sinhá
meu lábio nunca beijou

Nenhum comentário:

Postar um comentário